sexta-feira, 22 de abril de 2016

H.P. Lovecraft e a insignificância humana frente a imensidão do universo

Existe um autor que muito admiro que apenas recentemente teve seu mérito reconhecido se tornando pop principalmente por uma de suas criações que citarei mais a frente. Howard Philips Lovecraft, vou me limitar e não ficarei recontando aqui a biografia desse autor tão sombrio e por que não, de um nicho especifico de leitores.

Lovecraft teve uma vida difícil desde sua infância até sua precoce morte. Eu descobri seu universo fantástico não faz muito tempo e logo me apaixonei, ironicamente por sua falta de paixão. Podemos dizer que Lovecraft foi o precursor e principal escritor do gênero hoje conhecido como horror cósmico.

Suas histórias, muitas delas baseadas em seus próprios pesadelos, nos entregam um ambiente de desconhecido, onde na maioria das vezes o protagonista de suas histórias se envolvem por acaso do destino em uma trama de horrores inimagináveis. O desconhecido, o inominável, o indescritível além de diversos outros adjetivos usados por Lovecraft definem bem a essência de suas histórias.

Sua popularidade recente se deve principalmente por sua mais conhecida criação, o grande Cthulhu. Um ser de malignidade imensurável que habita as profundezas dos oceanos onde aguarda sonhando o momento em que as estrelas estarão na posição correta para seu despertar e reinar mais uma vez sobre a Terra. Cthulhu é uma entidade muito interessante, porém nem de longe a mais notável, complexa e poderosa das criaturas criadas por Lovecraft.

O que é mais interessante em toda a mitologia lovecraftiana é a filosofia de que o ser humano é insignificante frente a esses seres que nem sequer sentem nossa presença como algo de importante. Um mero vislumbre de uma fração minuscula do que seria alguma dessas entidades levaria o mais são dos homens a completa loucura.

Dentro desse universo rico e cheio de mistérios, temos um elementos muito interessante que é o Necronomicon, um grimório oculto escrito pelo árabe louco Abdul Alhazred. Diversas pessoas nos contos de Lovecraft que se deparam com o livro e acabam tendo o infortúnio de passar os olhos por suas páginas malditas, ou pior ainda ler seu conteúdo proibido acabam sendo levadas a estados de obsessão até mesmo a insanidade. Tamanho o conhecimento oculto a respeito dos Grandes Antigos qual nenhuma mente humana foi criada para assimilar.

Neste panteão de deuses temos os Deuses Exteriores que são o mais complexo conceito de entidade dos mitos de Cthulhu. São seres que representam conceitos propriamente ditos como Yog-Sothoth que é descrito por Lovecraft da seguinte maneira "Yog-Sothoth sabe o portão. Yog-Sothoth é a porta. Yog-Sothoth é a chave e o guardião da porta." Há tambéem outras entidades com Shub Niggurath que seria como a força natural da fertilidade. Esses seres mais poderosos são incompreensíveis para a humanidade em seus desejos e sua consciência. A moral humana, nossos conceitos filosóficos ou mundanos da realidade simplesmente não se aplicam a tais seres. É simplesmente impossível para um humano compreender a lógica de tais criaturas cósmicas.

O único desses seres maiores que tem consciência da existência e moral humana seria Nyarlathotep, conhecido também como o caos rastejante. Uma entidade transmorfa que pode assumir a forma que desejar. O que se diz é que como ele compreende a moral humana, assim ele optou pela maldade. Nyarlathotep seria o avatar de Azathoth, o caos nuclear, a mais poderosa da entidades dos mitos de Cthulhu. O universo, pelo que se diz, foi criado por um espasmo de Azathoth. Azathoth, porém é um ser não pensante, uma criatura imbecil que apenas existe apesar de ser o centro do universo conhecido.

O poder das entidades é tamanho que acabam por influenciar pessoas em seus sonhos levando-as a buscas por respostas vãs que cujo fim será a trágica loucura ou a morte. Grande parte dessas entidades são cultuadas como deuses por ordens pagãs e cultos profanos, como o próprio Cthulhu.

H.P. Lovecraft foi um grande mestre na escrita do gênero do horror e desbravador de um gênero que viria a influenciar gerações de grandes escritores como Neil Gaiman e Stephen King. Teve suas próprias influências como Edgar Allan Poe e Robert Chambers do qual adotou o personagem Hastur que acabou por se tornar um de seus principais deuses cósmicos. Mas é inegável que Lovecraft é até hoje um dos, se não o maior escritor de terror de todos os tempos. Seus contos com um suspense subjetivo cuja criatura é descrita de maneira economicamente e de forma simplória influenciando-nos a usar a imaginação é deverás genial. A filosofia niilista de insignificância humana frente a seres incompreensíveis e onipotentes é outra característica fundamental em suas obras de caráter cínico, pessimista e que nos atormentarão nossos pesadelos influenciado gerações de autores ainda por vir.


Deus (não?) está morto

Tem um filme pra estrear aí que estou muito ansioso para assistir chamado "Deus Não Está Morto 2". Por que logo eu quero tanto ver esse filme? Bem, para explicar tenho antes que falar sobre o primeiro filme.

Há algum tempo, eu via meus amigos evangélicos falando desse filme Deus Não Está Morto e compartilhando coisas dele no Facebook. Acabei que me deparei com ele no Netflix. Li a sinopse e achei a premissa do filme interessante. Um estudante cristão que tem um embate filosófico com seu professor ateu para provar a existência de deus.

O negócio é que o interessante fica só na sinopse mesmo. Como eu posso descrever essa obra? Um filme feito por cristãos fanáticos para cristãos fanáticos, cegos pela fé, talvez?

Vamos começar pelo inicio. Temos um jovem (não me lembro o nome de ninguém do filme pois faz bastante tempo que o assisti) que ingressa em uma turma de filosofia onde o professor é um ateu, e esse nosso jovem protagonista, cristão. Até aí tudo bem, entretanto, logo que somos apresentado ao professor (que diversas pessoas já tocam o pavor no jovem estudante por usar um crucifixo dizendo que vai ser braba a aula de filosofia com esse professor), o dito cujo faz um espetáculo digno de sua reputação de tirano ateu.

Nosso professor, que aqui encarna o papel de vilão, apresenta diversos pensadores e filósofos na lousa e pergunta à turma: o que todos eles tinham em comum? Logo responde: Todos eram ateus. Nosso tirano professor então cita a famosa frase de Nietzsche "Deus está morto" e diz para que todos os seus alunos escrevam em uma folha a mesma frase. Contudo, o jovem cristão supracitado é o único da sala que se recusa a faze-lo. O professor diz que se ele não escrever a frase, perderá pontos, o jovem permanece resoluto. O aluno então faz uma proposta ao de que nas próximas aulas se ele conseguir provar que deus existe, ele passa na matéria, e quem julgaria o desempenho dele seria a turma. O professor receoso, aceita.

Ok, tudo bem até ai, mas depois disso nós temos esse professor ameaçando o aluno dizendo que ele não vai humilha-lo em publico e coisa e tal. Além de diversas histórias paralelas que vão se ligar em algum ponto pela glória de deus, obviamente. Vamos então ao embate: Os argumentos usados pelo jovem são tirados da bíblia, risíveis, a maioria do antigo testamente, principalmente do gênesis onde ele tenta corroborar com a ideia do big bang. O professor consegue desmontar os argumentos do aluno com um único dos seus. Noutro dos dias de embate, o aluno vai novamente ao pódio e desafia o professor dizendo não que ele não acredita em deus, mas sim que ele tem raiva de deus, que ele acreditava em deus pois em um momento dos embates o professor cita um trecho da bíblia.

O professor é então desconstruído, os alunos todos se levantam dizendo "deus não está morto" e o aluno vence o duelo "filosófico". Perai, então só porque um ateu conhece um trecho da bíblia quer dizer que algum dia ele foi cristão? Quer dizer que todo ateu na verdade tem raiva de deus ao invés de não acreditar nele?

Vamos para outro núcleo do filme que é o da garota muçulmana. Existe uma menina muçulmana no filme que claramente tem vergonha de andar de burka em público e só a usa por vontade do pai. Em um certo momento, a menina está em casa, ouvindo um uma banda de pop gospel quando o pai a flagra e começa a brigar com a garota e bater nela. a menina então começa a chorar e dizer "não pai, eu amo Jesus, ele é meu salvador" ou coisa parecida e acaba por fugir de casa.

Tem um outro núcleo que é o do garoto chinês, cujo pai, por viver na china comunista, é ateu e não aceita o filho acreditar em deus. Assim, esse jovem garoto, assim como a menina muçulmana logo criam laços de amizade com o rapaz que está em embate com o professor, assim graças a essa iniciativa de ascender o cristianismo no coração das pessoas, esses dois indivíduos oprimidos pelos seus pais encontram sua verdadeira fé em Cristo Jesus, o verdadeiro e único salvador.

Sem contar que o professor ateu que na verdade tem raiva de deus é casado com uma cristã que vive humilhando-a entre amigos também ateus por ela acreditar em deus até o ponto dela abandona-lo por sua atitudes de um ateu opressor. Tem um outro núcleo de uma repórter que também tem raiva de deus que acaba se convencendo de que deus é bom ao conversar com a bandinha de pop gospel.

No grande clímax do filme, quanto está todo mundo indo para o show dessa banda gospel, o professor, já arrependido de tratar sua mulher como um ser inferior simplesmente por acreditar em uma entidade cósmica imaginária, corre em direção ao tal show para pedir perdão quando, de repente é atropelado. Aí aparecem dois padres pra ele que eu não faço ideia do porquê estarem no filme além de dizer o tempo todo "deus é bom o tempo todo e o tempo todo deus é bom". Esses padres, pastores ou sei lá o que, fazem a extrema unção do professor, mas antes de morrer, nosso terrível tirano professor se arrepende de seus pecados e aceita Jesus em seu coração indo diretamente para os portões do céu.

Daí temos dois padres dizendo que a noite foi boa por ter uma pessoa convertida ao cristianismo apesar dela ter acabado de MORRER na frente deles! Depois disso temos um lindo show de música gospel com a música "deus não está morto". Fico pensando, esse filme todo pra divulgar uma banda de pop gospel e sua musica nova? Ok, né.

O filme acaba, temos um ateu tirano que tem raiva de deus arrependido, um aluno cristão que converteu sua turma inteira com argumentos tão furados quanto uma peneira, além de "provar" que deus existe apenas por derrotar seu professor fazendo ele ficar com birra.

O que aprendemos no final do filme então: O cristianismo é a verdadeira, unica e infalível religião do mundo; ateus são todos maus caráter que não respeitam a fé alheia e que na verdade tem raiva de deus; muçulmanos e comunistas são maus que no fundo querem destruir a liberdade de seus filhos; deus existe baseado apenas nas histórias bíblicas e devemos desconsiderar séculos de ciência em prol de um livro cheio de contradições. Ahh, e musica gospel é legal.

Agora, por que eu quero ver a continuação desse filme preconceituoso em todos os sentidos, não apenas com ateus mas com todas as religiões do mundo que não o cristianismo? Porque eu quero ver quão fundo vai o buraco, quero ver o que eles vão aprontar dessa vez. Se nesse primeiro filme eu me seguirei para não vomitar, quero ver o que nosso nobres religiosos vão nos apresentar sendo que vai ser numa escala ainda maior.


segunda-feira, 18 de abril de 2016

O anticristão

Liberdade é o maior bem que o ser humano pode almejar a ter, porém ela é uma ilusão pois nós não somos realmente livres por mais autonomia que tenhamos. O sistema capitalista nos torna escravos do dinheiro, assim como a religião nos torna escravos da idolatria. 

Como disse o pensador anarquista Mikhail Bakunin: "O cristianismo é precisamente a religião por excelência, porque ele expõe e manifesta, em sua plenitude, a natureza, a própria essência de todo o sistema religioso, que é empobrecimento, a escravização e o aniquilamento da humanidade em proveito da divindade."

A fé cristã destaca-se das outras por ser uma religião voltada inteiramente ao divino e não ao humano. Assim sendo, o cristianismo tem como pilar a escravidão do espirito em prol de uma divindade superior deixando em segundo plano a própria existência do "eu".

O cristianismo é a fé do juiz, juri e executor, e se mostrou assim durante séculos de terror em que foi a lei máxima onde condenava à fogueira e torturava milhares de pessoas acusadas de heresia e bruxaria. Não me refiro somente à Igreja Católica, mas também ao protestantismo formado por Lutero que teve seus episódios negros ao exterminar católicos, e na própria América em eventos como das bruxas de Salém.

Obviamente os católicos, evangélicos e outras ramificações cristãs de hoje dirão que foram erros do passado e que devem ser esquecidas e que o mundo mudou. Eu digo não! a história jamais deve ser esquecida, os pecados de seus antepassados assombram a todos ainda. Esses crimes imperdoáveis devem sempre e diariamente ser lembrados a cada cristão pois foi em nome de sua fé, de seu deus que milhares de pessoas inocentes morreram.

E ainda dizem como se as coisas tivessem mudado, como se os cristãos de hoje fossem diferentes dos genocidas de ontem. Pois não são! O cristianismo ainda é o mesmo, ainda é doente. Os cristãos ainda são preconceituosos e intolerantes, só não tem uma instituição poderosa o suficiente para queimar pessoas em praça pública como antigamente.

Deus pode ser amor, mas o cristianismo é o oposto, o cristianismo é ódio. Ainda hoje vemos políticos intervindo no estado laico para envenenar nosso país com sua fé cega e podre. As pessoas que seguem piamente seus pastores e padres são ovelhas cujo pastor do rebanho é o lobo.

Marx já disse "A religião é o ópio do povo", uma droga necessária para amenizar o sofrimento mundano das pessoas dos problemas cotidianos nos dando a ilusão de uma recompensa futura e inexistente.

O cristão médio não passa de um cordeirinho cheio de lã de onde seu pastor o tosa até não sobrar nada, tanto materialmente quanto espiritualmente pois o eu não importa, o que importa realmente é deus. E se deus não existir? O cristão médio não ousa se fazer essa pergunta, para ele isso é tabu, para ele deus é uma verdade absoluta e unica verdade, unica salvação.

Jamais poderei alcançar a salvação, o sucesso através dos meus atos, apenas através da oração de adoração de um ser imaginário e invisível. E se deus estiver morto? E se deus nos abandonou? O cristão médio jamais aceitaria tamanha revelação pois deus morreu por seus pecados porém ressuscitou. Mas se deus morreu por meus pecados, por que ainda vejo pecados na terra, tantos horrores diariamente?

Deus me criou a sua imagem e semelhança ou eu o criei à minha imagem e semelhança em minha arrogância? Enquanto houver essa bussola imoral chamada cristianismo, esse tapume ofuscando os olhos das pessoas, haverão os alienados pelo câncer cristão. Enquanto bilhões se guiarem por um livro milenar cheio de falhas e incoerências, haverá a ignorância e continuará havendo ciclicamente morte e intolerância.


domingo, 3 de abril de 2016

Superman e Batman: Dois lados de uma mesma moeda

Preto e azul, deus vs homem, dia vs noite. Assim definiu Lex Luthor o embate entre o filho de Krypton e o morcego de Gotham em Batman vs Superman: A Origem da Justiça. Mas por que essa definição de Luthor é tão errada para esses dois ícones e somente uma mente doentia como a de Lex Luthor poderia conceber algo assim?

O dia e a noite são um ciclo, um não existe sem o outro, assim como esses dois grandes heróis. Superman e Batman sempre foram representados como grandes amigos nos quadrinhos e apesar de serem completos opostos, se completam. Um precisa do outro como uma bússola moral. Clark para guiar Bruce um pouco além de sua visão soturna e pessimista da sociedade, e Bruce para mostrar para Clark que o mundo não é todo flores.

O erro começa quando o Superman é considerado um deus, sendo que ele sempre foi apenas um cara "diferente" querendo fazer o que é certo. Mas para Luthor, o fato de Kal-El vir de outro mundo e ser todo poderoso o torna um deus vivo em terra, e a premissa do personagem no filme é desmenti-lo como tal.

Mas se o vermos como um deus, então deus vs homem também não existe pois o homem e deus sempre viveram em harmonia em suas crenças. Batman é a representação do homem falho e violento, Superman representa a idealização do que o homem deve se tornar em sua evolução. Um não pode entrar em conflito com o outro pois assim nunca haverá a ascensão do homem Batman para o Super-Homem.

Na cena em que Batman está com a lança de kryptonita prestes a matar o Superman e este diz que Batman deve salvar Martha, neste momento Batman e Superman se dão conta que ambos são um só. Os dois tem a mesma história, os dois passaram pelo mesmo trauma de perder seu mundo. O ambiente ao redor os tornou diferentes, porém iguais. Ambos lutam pelos inocentes e indefesos, pela justiça e igualdade por conta desse trauma sofrido.

Já que estou falando da característica divina do Superman, existe também a clara relação entre o personagem e Jesus Cristo, fato especialmente destacado nos filmes de Zack Snyder. Ambos os personagens vieram de um mundo distante enviados por seu pai como a salvação da humanidade. Os dois também foram criados por um casal de camponeses.

As narrações dos dois filmes do Superman mostram bem essa relação, tanto a do Superman de Richard Donner quanto a do Homem de aço de Zack Snyder:

"Você vai viajar para longe, meu pequeno Kal-El. Mas nós nunca iremos te deixar... mesmo após a nossa morte. A riqueza de nossas vidas será tua. Tudo o que eu tenho, tudo o que aprendi, tudo o que sinto... tudo isso, e mais, eu... eu deixo para ti, meu filho. Você me levará dentro de ti, todos os dias da tua vida. Tu farás da minha força a tua própria, e verás a minha vida através dos teus olhos, assim como a tua vida será vista através dos meus. O filho se torna o pai, e o pai se torna o filho. Isso é tudo o que eu... tudo o que eu posso te dar, Kal-El." (Jor-El, Superman 1978)

"Você vai dar às pessoas um ideal para lutarVão correr atrás de vocêvão tropeçarvão cairMas com o tempoeles vão acompanhá-lo ao sol. Com o tempovocê vai ajudá-los a realizar maravilhas." (Jor-El, Homem de Aço 2013)

O conceito da divindade do Superman e da relação com Cristo é constante nos filmes de Snyder. Em Man of Steel, Superman diz que está na Terra há 33 anos, idade de Cristo quando foi crucificado. Em Batman vs Superman, Batman cria uma lança de kryptonita para matar o Superman, lembrando a lança do destino que perfurou o coração de Jesus por Longinus para averiguar se Cristo já estava morto na cruz.

Voltando quanto a questão do Homem de Aço contra o Cavaleiro das Trevas, eles não podem se opor tanto quanto a noite não se opõe ao dia pois ambos representam facetas da mesma moeda.

Neste mesmo raciocínio, este é o porque do Coringa não matar o Batman. O Batman representa ordem onde que o Coringa representa o caos. Um necessita do outro para existir. Os inimigos do Batman todos sofrem de distúrbios mentais ou loucura, reflexo da própria loucura do Batman.

Como é mostrado em A Piada Mortal, basta apenas um dia ruim na vida de uma pessoa para ela enlouquecer, e foi o que aconteceu com Bruce Wayne para se tornar o Batman.

O motivo do porquê dos principais inimigos dos grandes heróis de quadrinhos sempre existirem e sempre voltaram não apenas porque as vendas cairiam se eles desaparecessem mas também por serem os extremos opostos de nossos heróis e assim como serem completamente diferentes entre si, eles se completam, cuja existência depende um do outro. Que seria de Batman sem Coringa? Que seria de Superman sem Lex Luthor? E a questão em discussão, não inimigos mas arquétipos opostos e complementares: Que seria de Batman sem Superman e vice versa?



sábado, 2 de abril de 2016

A inconsistência da presença simultânea de deus e do mal

O paradoxo de Epicuro é um dos dilemas (ou no caso, trilema) mais debatidos na filosofia ao longo da história. Seria possível a existência de deus e do mal ao mesmo tempo? Seria deus onipotente, onisciente ao mesmo tempo que onibenevolente?

O trilema proposto pelo filósofo grego Epicuro de Samos é estruturado da seguinte forma, considerando as três características do deus judaico cristão, onipotência, onipresença e onibelevolência:

A - Deus deseja mas não consegue acabar com o mal. Nesse caso deus não é onipotente.

B - Deus consegue mas não deseja acabar com o mal. Nesse caso, deus é perverso.

C - Deus deseja e consegue acabar com o mal. Nesse caso, deus é irreal pois o mal existe.

D - Deus não deseja e não consegue acabar com o mal. Nesse caso, por que chama-lo de deus?

Seguindo esse raciocínio cético da existência de um deus todo poderoso e todo bondoso, questionamos: de onde vem o mal? Se deus é o criador de todas as coisas, ele criou o mal também, então ele não é todo bondoso, mas se o mal surgiu sem o consentimento de deus, então deus não é o criador de todas as coisas, consecutivamente não sendo onipotente e onisciente.

A famosa expressão de que o homem é a imagem e semelhança de deus destaca essa incoerência bíblica. O homem é um ser imperfeito e pecador, como então seríamos imagem e semelhança de deus que é perfeito? Teríamos nos corrompido após o pecado original de Adão e Eva? Antes disso teríamos sido nós seres perfeitos à imagem de deus?

Existe o conceito do demiurgo muito conhecido no gnosticismo cristão. Nessa ideia, o deus primordial teria criado um ser que seria responsável pela criação da terra e da humanidade, esse deus filho criador do mundo é conhecido como demiurgo. Na gnose cristã, o demiurgo seria o deus do antigo testamento que não é um deus benevolente ou todo poderoso. Um deus controverso, e que no novo testamento ele teria sido destruído ou removido de alguma forma com a vinda do deus criador verdadeiro e primordial, Jesus Cristo. Algumas pessoas consideram que o demiurgo seria o próprio Lúcifer.

Em outras crenças e mitos, é mais fácil a compreensão da existência do mal e de um (ou vários) deus ao mesmo tempo, principalmente em religiões politeístas onde claramente não existe um deus único todo poderoso. Geralmente nessas religiões politeístas, os deuses possuem muito as características de seu povo, sendo cada divindade responsável por um setor da existência.

O problema maior reside realmente no deus YHWH em que se propõe um deus absoluto e infalível. Ao mesmo tempo em que vivemos em um mundo caótico, diverso e multifacetado. Teria deus nos dado o livre arbítrio para escolhermos entre o bem e o mal como uma forma de teste? Mas então por que crianças inocentes sem qualquer discernimento moral deveriam sofrer a pena de um teste sádico desses? Os espiritas kardecistas alegam que o sofrimento mundano dessa vida é o pagamento de um pecado cometido em uma vida passada. Eu considero essa explicação muito rasa.

O mal nasce na pessoa ou a pessoa desenvolve a maldade ao longo de sua vivência e suas relações com a sociedade? Para mim, o ser humano nasce cru moralmente e é moldado pelos preceitos éticos e morais da sociedade ao redor. O discernimento de bem e mal, certo e errado são ganhos com o tempo. Aquela famosa frase de que o homem nasce bom e a sociedade o corrompe é meio errônea. Eu diria que o ser humano nasce neutro, a sociedade o molda.

Se deus é onisciente, onipotente e onibenevolente, deus é um reflexo do desejo do homem de ser perfeito, e não o homem um reflexo da imperfeição de deus. O homem criou o deus YHWH à imagem e semelhança do que ele deseja ser. Em outras religiões com deuses menos absolutistas, deus, ou deuses podem sim ser considerados reflexos do homem daquela época e de sua cultura. Em suma, a existência de um ser criador todo poderoso e todo bondoso é inviável filosoficamente falando.