quinta-feira, 26 de maio de 2016

Batman, vigilantismo, fascismo e como super heróis não funcionam no mundo real.

Desde que me conheço por gente eu sou fã incondicional do Batman, porém recentemente passei a perceber características que vem me incomodando muito no Cavaleiro das Trevas, principalmente na história homônima escrita por Frank Miller.

Reli Batman O Cavaleiro das Trevas para poder analisar suas características sociais mais profundamente, pois acredito que as criticas sociais da história são o foco narrativo principal, ao contrário de seu aspecto "massa véio" de por um combate de titãs entre Batman e Superman.

Ao reler a história, percebi que o maior problema em Gotham não são os criminosos, mas sim o justiceiro vestido de morcego que trava uma cruzada solitária em busca de "justiça". Não estou defendendo a criminalidade de maneira alguma, contudo a presença de um vigilante que faz justiça com as próprias mãos é nociva.

Farei um paralelo com a realidade brasileira em que vivemos. Num país em que personas infames da mídia como a âncora Rachel Sheherazade incita discursos de ódio e defende a autotutela e a justiça com as próprias mãos, quão perigoso seria a presença de um Batman?

Na história escrita por Frank Miller, existe grande destaque para as opiniões midiáticas em relação ao Cruzado Encapuzado e sua ações, opiniões divergentes. Uns o apoiam afirmando que suas ações são justificáveis, que isso é um reflexo da vontade do povo americano de reagir contra o crime e a injustiça, porém acredito eu, existem opiniões mais sensatas, as contrárias às suas ações que afirmam que psicopatas como o Coringa e o Duas Caras são reações à existência do Batman e que sua presença apenas infla a ação da criminalidade.

Quando jovem eu sempre achei o Batman um personagem impecável, correto em suas ações, porém hoje percebo o quão errada é sua presença. Vamos olhar por outro lado, o lado de que o combate ao crime do Batman se limita às classes marginalizadas da sociedade e nunca ou quase nunca o vemos realizar ataques ao coração das organizações criminosas, em outras palavras, políticos e milionários como o próprio Bruce Wayne.

Em relação à presença do Superman, o "escoteirinho do estado" na história. O presidente pede para que o Homem de Aço coloque as rédeas no Batman pois ele está agindo fora das normas. Isso me leva à outra questão, a da HQ/filma Guerra Civil onde a questão de heróis regulamentados pelo estado é discutida. Obviamente a história é extremamente romantizada para que fiquemos do lado do Capitão América e os poucos que ficam do lado Homem de Ferro o fazem por seu carisma apenas, contudo num aspecto politico e social, um grupo privado de super seres auto suficientes capazes de reduzir cidades inteiras a nada agindo como vigilantes sem nenhum tipo de regulamentação de um estado, ou no caso do filma das Nações Unidas, é completamente irresponsável. 

Olhando por esse lado, uma registro de heróis é a saída mais "correta" para que não hajam desastres ou para que a soberania de uma país não seja infligida como ocorre no filme, causando algo que em uma ocasião comum seria um ato de guerra. 

Vamos pensar na Tropa dos Lanternas Verdes. Qual a legislação usada pelo livro de Oa que permite que o oficial da Tropa tenha autonomia sobre seu setor inteiro, influenciando e intervindo na soberania de nações e planetas independentes? Seria necessário que todas as nações e planetas do setor em que o oficial da tropa tivessem conhecimento e concordassem com a autoridade da Tropa dos Lanternas Verdes ali em seu território. 

Eu nunca gostei de ver o Superman como um agente do governo estadunidense, acho muito interessante a ideia de ele recusar sua cidadania americana e se tornar um cidadão da Terra. Entretanto a presença de um super ser como ele seria uma muleta para que alcançássemos uma evolução natural sem a ajuda de um alienígena. 

Voltando à questão do Batman, existem histórias como em Batman Inc. em que o próprio financia diversos Batmen ao redor do mundo e cria robôs de vigilância para monitorar e patrulhar Gotham contra o crime. Isso é de um nível de fascismo tão grande que me deixa assustado. É contra tudo o que George Orwell diz em 1984. 

Vale também lembrar do final de Cavaleiro das Trevas onde após Batman derrotar a gangue mutante, supostamente morto ele reúne os ex membros da gangue para que trabalhem para si e combatam o crime consigo. Ou seja, Batman criou uma milicia.

É muito lindo o mundo dos quadrinho e dos super heróis, mas nos quadrinhos. É impossível que funcione na realidade. Vigilantismo como o de Batman, Daredevil ou Punisher é basicamente a reação de pessoas revoltadas com o crime e que no final acabam cometendo injustiças e que na vida real são os neo nazis que espancam negros e homossexuais nas ruas. 

Não é de se espantar que minha história em quadrinhos favorita seja Watchmen em que é minimamente possível conceber o universo ali criado por Alan Moore de proximidade com a realidade. 

Ainda gosto muito do personagem Batman, porém é muito difícil me identificar com ele ainda percebendo tantas características errôneas e politicamente incorretas presentes em sua persona. Talvez eu tenha ficado chato ou talvez eu tenha crescido, porém não consigo mais passar batido por essas questões.


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