quinta-feira, 24 de março de 2016

Batman vs Superman: A Origem da Justiça

Eu tenho esperado por esse momento há tanto tempo que agora que chegou me faltam palavras. Eu sou fanboy assumido da DC Comics, o que a maioria das pessoas tem de paixão por times de futebol, eu tenho por essa editora de quadrinhos. Cresci assistindo as séries animadas do Batman, Superman e da Liga da Justiça. Um pouco mais velho, passei a gostar de quadrinhos e ler bastante HQs do Batman, Superman e Lanterna Verde principalmente. Nos games, a série Arkham e o jogo de luta Injustice me conquistaram de imediato. Apesar dos pesares, sempre gostei dos filmes da DC, Batman de Tim Burton, Superman na era Christopher Reeve, o tão criticado Superman O Retorno que na época e até hoje gosto muito. A trilogia Batman de Nolan. Porém, nenhum desses filmes recriava fielmente as sensações que eu sentia ao ler, assistir ou jogar as obras da DC Comics. Até que um dia veio um filme que mudou tudo pra mim. O Homem de Aço.

Na época ninguém esperava que esse filme fosse ser o inicio de uma nova era para a DC nos cinemas, e eu me apaixonei de imediato por ele. Quando então foi anunciado uma continuação, fiquei ansioso, porém, quando os atores foram escolhidos fiquei com um pé atrás. Hoje, bato na minha boca por algum dia ter duvidado da competência de qualquer um desses atores para seus papéis. Hoje, assim como em Man of Steel, eu senti novamente a emoção dos quadrinhos, das animações e dos jogos em um filme. É como um sonho se realizando, ver os maiores ícones das histórias em quadrinhos, juntos em uma super produção cinematográfica de qualidade.

É um retrato fiel dos personagens? Não, não é, é uma adaptação, mas uma adaptação digna. O próprio Superman, a figura mais problemática de todo esse universo cinematográfico é retratado como um deus que a qualquer momento pode se tornar um tirano mortal, mas ao invés disso dedica-se à ajudar a humanidade. Batman, diferentemente dos quadrinhos, não possuí o código de ética de não matar aqui e elimina quem ver pela frente. É difícil analisar a Mulher Maravilha dado o curto espaço de tempo em tela. O que eu considero aqui não é que essas adaptações sejam algo ruim ou que isso estrague os personagens. O conceito de multiverso é algo muito presente nos quadrinhos da DC, então para mim esse DCCU é uma realidade alternativa, um dos muitos universos presentes no multiverso DC onde cada autor, cada criador tem sua liberdade para criar em cima disso.

Em questões de qualidade e de o quanto eu devo pedir desculpa a Ben Affleck, só preciso dizer que apenas o Batman desse filme consegue engolir por completo Christian Bale da trilogia Nolan e seu câncer na garganta. Uma das poucas ressalvas que eu tenho com o filme é o Lex Luthor de Jesse Eisenberg. Achei muito forçado, cheirado a cocaína, ligado no 220 e cheio de faniquito. Quanto à Mulher Maravilha, o pouco que apareceu só posso dizer que sua cena de luta roubou o filme! Estou louco para ver seu filme solo.

Em relação às criticas negativas que o filme tem recebido e comparações com o universo Marvel: As pessoas andam muito acostumadas com os filmes coloridinhos, engraçadinhos e bonitinhos da Marvel. O que a DC fez aqui é um serviço de utilidade pública aos fãs de quadrinhos. A escola de cinema Marvel apenas incentiva as pessoas que pensam que quadrinhos e filmes de super heróis são coisas de crianças a continuarem a pensar assim e a reforçarem esse tipo de pensamento preconceituoso. Zack Snyder nos dá aqui algo totalmente diferente do que o cinema de super heróis vem mostrando atualmente. Algo sombrio, violento, dramático, algo que nem mesmo nos pesadelos mais terríveis do Mickey Mouse seria feito. Batman vs Superman é um filme necessário para trazer uma mudança de paradigma na visão de que filmes de heróis são para crianças, assim como foi feito nos quadrinhos na década de oitenta por Alan Moore e Frank Miller.

Para quem é fã como eu, vai ver muita coisa tirada dos quadrinhos, de O Cavaleiro das Trevas a A Morte do Superman. Os próprios movimentos de luta do Batman lembram muito os jogos da série Arkham. O que mais há nesse filme é fan service e isso de maneira alguma é um ponto negativo. O filme deixa um claro gancho para um futuro filme da Liga da Justiça e futuros filmes solos de outros heróis.

Hoje, eu realizei um sonho, de ver a santíssima trindade dos quadrinhos unida nos cinemas. Vi cenas das páginas das HQs saltarem para as telas. Me emocionei com o que eu considero agora o melhor filme de quadrinhos já feito e estou ansiosíssimo pelo que o universo cinematográfico DC vai trazer pela frente.


domingo, 20 de março de 2016

Solidão, depressão e suicídio

Eu quero falar de um assunto muito pessoal para mim. Algo que eu sei que muita gente não dá a mínima, muita gente tira sarro desse assunto, mas tem muita gente que sofre disso, que passa ou já passou por isso e sabe que isso não é "frescura" como muita gente fala por ai. Eu quero falar sobre depressão. Uma doença que hoje já é considerada o mal do século.

Eu primeiro vou contar sobre a minha experiência pessoal com a depressão. Não é uma história bonita, não é algo que eu gosto de me lembrar nem que eu goste de falar sobre, mas é algo que precisa ser discutido. Há alguns anos, uns quatro anos, mais ou menos, não tenho certeza, eu estava morando em São Paulo, tinha recentemente me mudado de Macaé onde possuía vários amigos, porém a mudança de cidade me afetou drasticamente. Fiquei morando lá com meus pais, minha irmã recém nascida e nenhum amigo. Eu me sentia sozinho, vazio. Uma casca sem  preenchimento. Não só isso as constantes brigas com meu pai só pioravam as coisas. Enfim, eu passei cerca de dois anos em São Paulo, aquela cidade com um ar opressor e deprimente. Matava aulas sempre que podia, não tinha coragem para ir no colégio, só queria ficar em casa.

Um dia, eu não aguentei mais a pressão e acabei por dar um xeque mate em mim mesmo. Eu tenho síndrome de tourett, que pra quem não sabe são diversos tiques motores involuntários que a pessoa acaba realizando, e por causa disso eu tomava, e ainda tomo remédios controlados. Nesse dia, eu sai de casa fingindo que ia pra escola, esperei meus pais irem para o trabalho, e voltei para casa. Em casa, eu acabei tomando todos os meus remédios de uma vez só, não só os que eu já estava tomando como também as caixas reservas para durarem semanas. A quantia exata de comprimidos eu não sei dizer mas foram muitos. Depois que eu  fiz esse ato de estupidez infinita, eu me dei conta do que eu havia feito. Fiquei desesperado. A primeira coisa que eu pensei foi na minha família, na minha irmã. Se eu morresse ali agora, como eu veria minha irmã crescer? O que seria da minha família? Dos meus pais, meus avós? Então eu peguei o celular e liguei para minha mãe que estava no trabalho e falei o que eu havia feito. Um adendo, era dia 1 de abril, então já sabe né, imagina se ela acha que é mentira. Felizmente ela acreditou, ficou desesperada, falou pra eu tentar vomitar os comprimidos fora e ligou para o porteiro do prédio me levar para o hospital correndo.

No caminho, enquanto o porteiro me levava para o hospital, que se não fosse por ele, hoje eu estaria morto, eu não estava com medo de morrer por causa dos remédio, mas sim de como o homem dirigia como um louco pra chegar logo no hospital. O negocio foi que eu passei uma semana na UTI, tomando um negócio de carvão lá pra filtrar meu organismo com a merda de um tubo entrando pelo meu nariz, passando pela minha garganta e chegando no meu estomago. Mas isso era o de menos, a vergonha de não conseguir ir no banheiro e acabar me cagando todo na cama pra depois as enfermeiras me darem banho na própria cama era maior. Pra urinar, sonda enfiada você sabe onde.

O que eu aprendi com isso tudo. Eu aprendi a valorizar a minha própria vida. Depois de passar por uma experiência muito pior do que a morte, eu vi que o suicídio não vale a pena. Não só isso. Meus avós que moravam aqui em Londrina, ao saberem do que aconteceu, foram correndo me ver no hospital. Meus pais ficaram ao meu lado o tempo todo. Eu percebi que eu tinha pessoas que se importavam comigo e me amavam, por mais fodida que estava minha vida.

Mas o que eu quero dizer é: tem muita gente que julga os outros sem saber pelo que essas pessoas passam. O sofrimento não existe só na forma física ou econômica, o sofrimento emocional é o mais presente de todos. Antes de você julgar alguém dizendo que o que ela diz estar passando é frescura, se coloque no lugar dela.

Eu conheço pessoas que consideram a depressão delas como falta de deus no coração e falta de rezar. Sério, isso me emputece muito. A pessoa não precisa de um padre ou um pastor, ela precisa de um psicólogo, um psiquiatra. Eu já cansei de ver em páginas de facebook moleques idiotas dizendo que pessoas com depressão que se cortam como uma forma de extravasar o sofrimento é falta de dar, é menina mal comida. Além de falta de compreensão, ignorância, também é machismo do pior tipo.

Tem muita gente que considera pessoas que tentaram suicídio como covardes por quererem fugir da vida. Amigo, desculpa mas não é nenhum tipo de covardia querer acabar com um sofrimento insuportável, por mais que hoje, depois da minha experiência eu seja totalmente contra o suicídio e acredite que com ajuda profissional e antidepressivos a pessoa pode ter uma vida feliz e saudável de novo.

Eu não consigo eleger um melhor dia da minha vida, mas o pior dia eu vejo ele de longe como esse em que eu tentei suicídio. Até hoje é difícil lembrar disso, escrever esse texto por exemplo está sendo extremamente desagradável. Porém hoje eu sou uma nova pessoa. Me afastei daquela cidade opressora que por mim nunca mais volto a morar. Moro com meus avós em uma casa com um clima muito mais agradável. Tenho diversos amigos aqui que eu amo muito. E sim, eu tomo antidepressivos, se eu ficar sem eles já bate aquela bad.

Se você tem depressão ou conhece alguém que tenha, procure ajuda, não precisa passar por isso sozinho. E se você julga alguém sem saber pelo que ela passa, não seja um babaca e procura conhecer melhor o problema dessa pessoa antes de falar merda.


quarta-feira, 9 de março de 2016

Baphomet: As faces do Bode mais famoso do ocultismo

Introdução

A figura conhecida como Baphomet é envolta em mistério, não se sabe ao certo sua origem, porém há escritos datados por volta do século XI relatando sobre a já existência da imagem da entidade nessa época.

Hoje, o símbolo é conhecido por ser associado ao ocultismo, esoterismo, magia, bruxaria, satanismo. Por mais que sua representação mais conhecida seja a figura ilustrada por Eliphas Lévi em 1897, Baphomet já era cultuado pelos templários muito antes disso.

Etimologia e imagem

Não há um consenso quanto a origem da figura, entretanto existem suposições de que Baphomet seja baseado ou apenas relacionado com outras deidades de diversas partes do globo como Egito, Índia, Grécia, Celta.

A etimologia não é menos envolta em mistério quanto sua origem. Enquanto alguns pesquisadores afirmam que o nome Baphomet possa ser a corruptela do nome Muhhamed, o profeta do Islamismo, outros dizem que possa ser a ligação entre o nome de três deuses: Baph, de Baal, Pho, derivado de Moloch, e Met ligado ao deus Set. Ainda, em uma outra versão, ao aplicar-se a cifra de tradução judaica Atbash ao nome Baphomet, encontra-se a palavra Sophia, o que em grego significa "sabedoria".

Sociedades secretas e demonização pela igreja

Ao longo das cruzadas, A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, ou apenas os Templários tinham como missão proteger os peregrinos em seu caminho à Terra Santa e receberam como base o Templo de Salomão, em Jerusalém. Segundo a lenda, eles possuíam o Santo Graal, porém isso não vem ao caso.

Ao longo das cruzadas, os Templários cultuaram Baphomet como um símbolo de conhecimento. Ao fim das cruzadas e com a perda da Terra Santa parra os muçulmanos, a igreja queria desmoralizar e desmantelar a ordem. Como a ordem estava com dívidas com o Rei Filipe IV da França, e com o apoio do Papa Clemente V, por os templários serem isentos de pagamentos de taxas a igreja, a adoração do ídolo Baphomet foi usada como bode expiatório, julgado o diabo pelo rei da França e pela Igreja Católica para a condenação dos cavaleiros a fogueira.

Mesmo após essa demonização, houve que cultuasse a figura, como os Maçons. Eles não o adoravam como um deus, no entanto o usavam como uma imagem de conhecimento onde sua simbologia era ensinada apenas para os mais graduados na ordem.
  
Eliphas Lévi e o simbolismo

Diferentemente do que caiu no imaginário popular da figura de Baphomet como sendo a Besta bíblica, ele é uma representação dualística e de conhecimento. Nossa imagem mais conhecida dele é a criada por Epliphas Lévi onde o mago ocultista francês o representa com grande simbolismo de dualidade.

Na figura ilustrada por Eliphas Lévi representando Baphomet, o pentagrama na testa do bode representa iluminação. A cabeça e pernas de bonde entram em contradição com o corpo humano, o qual representa a parte animal do ser humano. Baphomet é representado com seios, o que significa o sexo feminino, e o caduceu de Hermes é o falo, o sexo masculino. E no caduceu há as duas serpentes, a negra e a branca.

O caduceu de Hermes no esoterismo significa uma busca pela equilíbrio do corpo e do chakra tentando alcançar a abertura do terceiro olho, o que poderia ser o pentagrama. Na figura, Baphomet está com um braço para cima e um para baixo, "assim na terra como no céu" seria a melhor sentença para explicar essa simbologia, colocando que o que está acima é igual ao que está abaixo. Em seus braços está escrito "Coagle" e "Dissolve", as operações fundamentais da alquimia, coagular e dissolver.  Seus braços apontam cada um para uma lua diferente. A branca em cima sendo Chesed, e embaixo a lua negra Geburah, o que na cabala judaica significam conceitos distintos. Chesed associa-se à" bondade dada aos outros" enquanto que Geburah é relativa da "própria vontade de conceder bondade aos outros, quando o destinatário do bem é considerado indigno e suscetível de abusar desta".

As asas representa o céu, enquanto que a esfera onde ele se senta é a terra. As escamas em sua barriga é o mar,assim como o halo abaixo do caduceu é a atmosfera, do mesmo jeito que as escamas representam a água e o fogo acima da cabeça, o próprio fogo, além do conhecimento.

Conclusão

A partir de então, a figura de Baphomet é associada à do próprio Lúcifer, Diabo ou Satã pelos cristãos, causando medo e preconceito. Contudo há aqueles quem ainda ousam se estudar nos conhecimentos profundos do esoterismo e ocultismo e conhecer a figura, por que não simpática?

O que diferencia os templários de Eva, tentando provar da árvore do conhecimento? O ser humano teme o que não compreende, assim o faz com a figura "diabólica" de Baphomet que nada mais é do que um deus do conhecimento, de dualidade, bem e mal.

Mesmo em pleno século XXI e ainda nos encontramos encobertos pela ignorância e preconceito da idade média, e nem ousarei entrar na parte política da coisa. Assim como a queda de Lúcifer, a Estrela da Manha em Isaías 14:12, nosso pobre Baphomet teve sua queda nas mãos dos ignorantes e temerosos.

Como a Igreja Católica, assim como qualquer religião tenta pregar um verdade absoluta do universo, aquilo que se opões à sua verdade, um Satã, do hebraico, opositor, nosso Baphomet no caso, que se opões aos dogmas cristãos de uma única verdade absoluta.

O próprio satanismo e a Igreja de Satã que de nada de maligno possuí além do nome a princípio assustador, mas que no final das contas propaga o individualismo e a adoração à si mesmo como seu próprio deus na vertente do Satanismo LaVey, diferente do Satanismo Teísta, o qual cultua realmente a divindade demoníaca. A Igreja de Satã utiliza o sigilo de Baphomet como símbolo, como afronta ao cristianismo ao até mesmo como uma confirmação do caráter de iluminação e de busca de conhecimento da figura do bode templário.  

Vemos novamente hoje, no oriente médio os símbolos de mitologias antigas serem destruídos por fundamentalistas que recriam atrocidades cometidas antes por outras grandes religiões, afirmando em alto e bom som "o meu Deus é o único e verdadeiro", mal sabem eles que daqui mil ou dois mil anos, o deus deles estará na mesma situação que os deuses que eles destroem hoje. No final das contas, o que é religião hoje, amanhã será mitologia.


terça-feira, 8 de março de 2016

Considerações sobre a recepção de 'A Bruxa' e a falta de educação nos cinemas

Eu quero falar mais sobre 'A Bruxa' não apenas porque eu gostei horrores do filme mas também porque existem algumas considerações sobre o que as pessoas vem falando sobre o filme que eu quero fazer.
A geração WhatsApp não está pronta para conteúdo de qualidade. A molecada de hoje em dia, os mesmos adolescentes que ficam conversando e fazendo baderna no cinema são os mesmos que não recebem bem um filme denso como 'A Bruxa'.
A sessão onde assisti o filme estava transbordando de tão lotada, a maioria, obviamente eram adolescentes que andam em grupo e não calam a boca um minuto do filme e dão risada toda hora que a porra do bode aparece na tela.
Se tem uma coisa que eu adoro é ir ao cinema sozinho em uma sessão vazia numa terça a tarde. Não há nada melhor no mundo do que assistir um filme num cinema vazio.
Mas voltando ao que interessa. Eu não sei o que as pessoas acharam que foram ver no cinema. Uma geração pautada por "clássicos" do terror como Jogos Mortais e Atividade Paranormal. Por favor, 'A Bruxa' é um filme para quem tem um paladar mais apurado e que não só consome os junkfoods do cinema como os Atividades Paranormais da vida.
Me desculpe se você gosta de porcarias, sim porcarias como Atividade Paranormal ou os famosos terror de jumpscare que de tão exauridos acabaram por tornar o gênero do terror uma piada em hollywood.
Mas daí quando alguém como o diretor de 'A Bruxa' Robert Eggers aparece com algo diferente, todo mundo reclama que não é aquele enlatado que estão acostumados a consumir. É como quando você vai numa churrascaria um dia e reclama que o boi não vem moído e montado num hambúrguer do McDonalds como está acostumado a comer.
Você tem o direito de não ter gostado do filme por uma série de motivos, mas alegar que ele é ruim porque ele não assustou você, é pura ignorância sua pois essa não é a premissa do filme. É a mesma coisa que falar mal de O Iluminado pelo mesmo motivo infundado.
Quero ver esse filme novamente nos cinemas, em uma sessão vazia se possível, sem adolescentes sem o mínimo de respeito pelo outro e pela arte. Molecada criada a base de filmes da Marvel só se pode esperar isso mesmo.


domingo, 6 de março de 2016

A trajetória da mulher na história e a importância do feminismo

O dia internacional da mulher está chegando, e eu gostaria muito de falar sobre um tema muito em pauta atualmente: o feminismo e a sua importância.

Eu estava  lendo há pouco a introdução do livro 'O Martelo das Feiticeiras' e em sua Intro, a editora faz alguns apontamentos muito interessantes sobre a trajetória da mulher na história. As civilizações mais primitivas, coletoras e caçadoras de pequenos animais viviam em uma sociedade matriarcal, a mulher e o homem viviam em igualdade social, porém o status espiritual da mulher era considerado divino dado a sua capacidade de gerar a vida. Conforme as sociedades humanas foram se desenvolvendo para a caça e a necessidade do uso da força, a mulher começou a ter um papel cada vez menor na sociedade limitando-se apenas à reprodutora. Onde antes o útero era o centro do sistema social, passa a ser o falo. E assim acontece com as religiões.

As religiões seguem  o mesmo caminho da sociedade como um espelho de sua evolução. Onde as primeiras formas de mitos o deus primordial criador da vida possuía a forma da grande mãe, assim como foi o desenvolvimento da sociedade para o patriarcado, os mitos foram se metamorfizando e novas religiões passaram a adotar com o tempo, primeiro deuses andrógenos, depois um deus macho que elimina a deusa mãe e assume seu lugar como grande deus, até finalmente um grande deus criador masculino.

No caso do cristianismo temos esse grande deus masculino, Jeová. Nesse ponto a sociedade humana já havia assumido uma característica totalmente patriarcal onde a mulher era submissa ao homem que possuía a força para a caça, a guerra e a conquista. Séculos mais tarde do nascimento da fé cristã, temos a idade média onde a maior repressão ao sexo feminino acontece. O sexo é considerado um ato demoníaco, e a mulher é aquela que representa o ato sexual. A mulher é Eva, ela tenta o homem que é o filho de deus, Adão, e a mulher é filha do homem, fruto de sua costela. A mulher para a igreja é impura, lascívia, ela é o caminho para o pecado da sexualidade. Então devemos queima-las. Não somente as mulheres eram aquelas que guiavam ao pecado como elas dominavam os conhecimentos de curandeirismo nessa época, assim ganhando fama de bruxas.

Milhares de mulheres e hereges foram mortos pelas fogueiras inquisitoriais da santa igreja. Hoje, existe uma liberdade feminina gigantesca que faria os bispos e papas da inquisição chorarem de horror. Mas não é o bastante. Durante os séculos XIX e XX, a luta pela igualdade dos sexos foi enorme. Mulheres não podiam trabalhar, não podiam votar. Mesmo depois de conquistarem esses direitos básicos de um cidadão civilizado, ainda hoje uma mulher ganha menos do que um homem.

A inquisição pode ter terminado, bruxas podem não mais ser queimadas na fogueira, mas mulheres ainda são espancadas em suas próprias casas por seus maridos, estupradas nas ruas enquanto voltam de seus trabalhos a noite. O tempo passou, mas o mundo não mudou. Levou milênios para que de uma sociedade matriarcal transformasse em patriarcal. Nossa sociedade atual considerada evoluída se comparada com uma sociedade pré-histórica em que homem e mulheres possuíam papéis iguais na sociedade, de evoluída não tem nada.

A mulher hoje sofre esse estigma de ser inferior por ser considerada um objeto, um símbolo de prazer para simplesmente satisfazer os desejos do homem através do sexo. A sociedade patriarcal condiz e não confronta esse fato. Se eu sou um homem, um ser superior, por que eu não posso então estuprar esta mulher, esse ser inferior, esse objeto que existe apenas para me satisfazer aqui no meio da rua?

A existência de um dia internacional da mulher, um dia da consciência negra, dia do orgulho LGBT não passa de efeito placebo. As minorias não querem apenas um dia para lembrarem seus sofrimentos passados e presentes, diários. As minorias querem uma sociedade que não cruze os braços frente a ineficiência do estado e ao preconceito e violência diários.

Sim, levaram milênios de anos para mudar de sociedade matriarcal para patriarcal, mas nossa espécie, as sociedades humanas eram primitivas para perceber o erro e a involução social. Hoje somos evoluídos o suficiente para perceber quando estamos agindo de forma errônea. Porém o orgulho do macho que não admite o erro e não enxerga além do umbigo do homem mantém o falocentrismo.

O macho com orgulho ferido que não admite apoiar uma causa feminista. O macho alfa que almeja acasalar com o maior número de fêmeas numa única noite para se provar o garanhão da alcateia. O macho religioso que considera a fêmea inferior pois assim foi dito em seus livros sagrados. Mas o pior de tudo é a fêmea que de tão alienada pela sociedade patriarcal, se aceita como inferior ao macho sem questionar.

A sociedade hoje em já é capaz de mutar para outro tipo de forma de existência. O feminismo que em conceito é a igualdade dos sexos é a opção ideal. Eu sou homem e não tenho vergonha de me considerar um feminista. 


A Bruxa e seu retrato histórico da ignorância

Há algum tempo atrás eu me descobri um entusiasta a aprender conhecimentos de ocultismo, esoterismo e satanismo em especial. Quem me conhece sabe o meu interesse por demonologia e magia do caminho da mão esquerda, apesar de meus conhecimentos serem extremamente rasos e eu não passar de um simples apreciador desse tipo de conhecimento, e não praticante. Sou também um grande defensor de figuras marginalizadas da mitologia como Set, Kali e Lúcifer, principalmente.
Esse meu gosto pessoal pelo proibido, o oculto muito provavelmente se deve à questão de eu ter uma família em parte muito católica, e em parte muito espirita kardecista. O desejo de me rebelar e quebrar essa corrente cristã de ordem e opressão me levou à profanação e iconoclastia, beirando a heresia criando em mim uma extrema repulsa pela fé cristã.
Mas o que isso tem a ver com o filme 'A Bruxa'? Digamos que eu criei uma simpatia por bruxas ao longo de meus estudos e de minha vivência. A adoração do diabo nada mais é do que a adoração de outro ídolo cristão, só que seguindo a lógica do maniqueísmo, ele seria o deus do mal, enquanto Jeová, o deus do bem. Então bruxas adoradoras de Satã, satanistas clássicos com essa mesma doutrina de adoração de seres sobrenaturais não passam de cristãos, diferente do satanismo moderno de Anton LaVey, mas deixemos essa discussão para outra hora.
Vamos então falar do filme 'A Bruxa', nome que apesar da extrema qualidade do filme eu acho bem clichê. O filme é totalmente baseado na fé cristã. Uma família extremamente religiosa, em especial o pai, o sacerdote e guia da família. Então o filme já nos apresenta um ambiente em que não só a bruxa do filme realmente idolatra o diabo, mas como ele realmente existe por ser uma ficção baseada numa mitologia judaico cristã.
O filme me remeteu bastante aos julgamentos de Salém e como a alienação religiosa pode tornar pessoas sãs em completos imbecis. Porém, diferente do caso real de Salém, aqui existe realmente uma bruxa e um demônio. O mais genial desse filme é que ele não se prende ao tão comum clichê do gênero do terror do susto. O filme constrói uma tensão e uma situação em que no clímax do filme o espectador já está perturbado e preso demais para argumentar se o diabo realmente existe ou não.
Meu filme de terror favorito de todos os tempo é o clássico 'The Thing' de John Carpenter, e o que eu gosto mais nesse filme é a tensão que ele cria. A desconfiança e o clima perturbador. Apesar de serem filmes completamente diferentes em suas propostas, 'The VVitch' e 'The Thing' são similares em sua construção de tensão e desconfiança. Suas trilhas sonoras, ambas criadoras de ambientes de extremo desconforto.
A inocência de uma criança ao cantarolar uma canção profana sobre um velho bode preto e ao mesmo tempo brincar de ser bruxa. Numa época em que instituições religiosas queimavam pessoas na fogueira por muito menos, qual o risco de ter uma filha supostamente bruxa? Pense nos termos de hoje, sua mãe, evangélica fervorosa, permitiria que você participasse de rituais profanos honrando o príncipe das trevas?
'The VVitch' é uma aula de história. Tire o sobrenatural e você verá a ignorância da época ali transposta. O ato de cultuar um deus pagão lhe dava uma passagem só de ida para a fogueira da purificação. Os diálogos geniais do filme sobre batismo e quando o filho mais velho pergunta ao pai se o bebê sequestrado iria para o inferno por ter nascido com o pecado de Adão. Com certeza alguns religiosos mais fervorosos devem ter se sentido incomodados com isso.
Mas eu quero falar sobre o que realmente interessa e o que mais me chamou atenção nesse filme: o final. O final desta película foi a coisa mais gratificante que eu vejo no cinema em muito tempo. A jovem Thomasine, após assassinar sua mãe sob legitima defesa contra a histeria violenta em que a mãe a tentava matar, sem esperanças, desolada e sem a que recorrer, Thomasine segue o bode preto até a cabana e realiza uma das cenas mais corajosas que eu já assisti. Thomasine invoca o demônio, e com ele realiza um acordo onde em seu livro assina o contrato de sua alma. Dançando em uma clareira na floresta, estão as tão temidas bruxas, cultuando a lua e a Lúcifer seu mestre. Thomasine então junta-se à elas onde em um orgasmo de liberdade encontra seu lugar legitimo.
Esse final é poético, é lindo. Como se Thomasine finalmente tivesse se libertado das correntes da fé cega e agora seguisse seu próprio caminho. A família opressora que sempre quis guiar seu caminho não mais tem poder sobre si, ela é livre. Uma esposa das trevas, noiva de lúcifer, uma succubus. Onde antes ela vivia para servir a deus e a família vestida comportadamente, agora ela dança nua ao redor do fogo.
"Ahhhh, mas agora Thomasine vai virar uma bruxa má que mata criancinhas e dança com o diabo sob a luz do luar". A verdade é que eu não vejo esse filme como um terror de bruxas más em busca de crianças para fazer feitiços, mas como uma metáfora da busca de uma garota por sua liberdade feminina, até mesmo por sua sexualidade. As primeiras feministas da história foram as bruxas. Hoje, aqueles que se opõem ao sexismo, fanatismo religioso, preconceitos raciais e sexuais, entre outros, são todos descendentes de bruxas e sua busca por liberdade.
Para concluir: 'A Bruxa' não é um filme de terror padrão. Se você busca sustinhos e um terror superficial como 'Atividade Paranormal', vai se frustrar. Aqui você vai encontrar algo denso, um terror psicológico e sim, uma obra de arte. 'The VVitch' é o filme de terror da década e será lembrado como clássico.
Hail Satan!


Taxi Driver e Eu

Bateu aquela vontade de ver hoje de novo pela milionésima vez essa obra prima de Martin Scorsese, e tenho certeza que muitos vão discordar, mas para mim o filme perfeito e maior obra prima do cinema. Daí, como sempre, dá aquela vontade marota de escrever. Mas eu não vou escrever uma crítica, vou falar sobre minha experiência pessoal com Taxi Driver, afinal assistir Taxi Driver é uma experiência.
Sabe aquela expressão "cabeça vazia é a oficina do diabo"? Então, essa é a história do filme, e de uma certa fase infeliz da minha vida. Eu passava por uma fase difícil de mudança de cidade, afastamento de amigos, solidão e depressão. E um belo dia acabei por assistir um certo filme chamado Taxi Driver. Sempre ouvi falar bem dele e fui levado a assistir por influência principalmente do Jovem Nerd.
Minhas primeiras impressões do filme não foram grande coisa, achei um filme ok, nada de mais, bem feito e tal, mas não era aquela obra prima que todos tanto falavam. Porém, quando eu comecei a comparar a vida de Travis com a minha própria e como a solidão e depressão dele estava destroçando a alma dele, eu vi que eu estava passando pela mesma coisa. Dias passando iguais como uma cadeia de correntes, uma repetição infinita do mesmo, do mesmo, do mesmo...
Os pensamentos de Travis eram assustadoramente parecidos com os meus. Pode parecer loucura, mas a solidão quebra as pessoas de maneiras inimagináveis, somente quem já passou por isso sabe. Travis fez seu moicano, eu raspei minha cabeça (tá, eu faço isso até hoje, mas não que eu seja um psicopata, mas sim porque eu gosto de raspar a cabeça). Travis explodiu e fez um massacre, eu explodi de outra maneira, e tentei suicídio.
Aí você deve estar pensando que eu sou influenciável e levei minha vida como a do filme. Não, a verdade é que eu consigo ver em Travis um pouco de mim, e um pouco de Travis em mim. Mas você pode me dizer também que eu só acho o filme tudo isso porque ele tem um valor sentimental e uma relação muito forte com a minha vida. E qual filme que gostamos não tem? Mas o filme é primoroso em tudo, fotografia, atuações, direção, roteiro, etc.
Uma curiosidade muito legal sobre Taxi Driver é que o mago Alan Moore se inspirou no filme para criar o personagem Rorschach em Watchmen (que não por acaso é minha Graphic Novel favorita), é bem perceptível a influencia de Travis em Rorschach no diário e nas frases por exemplo de como um dia uma chuva caíra e limpará as ruas da imundice.
Taxi Driver pode trazer muitas interpretações, para mim não é um filme sobre um psicopata, é sobre um homem que foi dobrado pela solidão, sobre como a solidão pode quebrar o espirito de alguém a ponto dela mergulhar na psicose. Mais do que um clássico do cinema, um formador de caráter.
"I'm God's lonely man."


Black Mirror e o medo da sociedade cada vez mais desumanizada

Deveriam colocara essa série na categoria "terror". Cara, que série, que soco na boca do estômago. Eu não sou mais o mesmo depois que assisti Black Mirror. Black Mirror realmente mexeu comigo, me deixou mau, fiquei horas pensando sobre cada um dos episódios e sua relação com nossa realidade atual e o mais assustador de tudo é que não estamos longe do mundo distópico de Black Mirror.
Diferente de ficções cientificas distópicas como Matrix, Exterminador do Futuro ou até mesmo Mad Max que são irreais demais para conseguirmos conceber em nossa mundo algum dia, Black Mirror é palpável e muito próximo do que somos hoje, e isso me dá medo.
Somos escravos da tecnologia e não percebemos isso. A tecnologia tem seus prós, evoluímos muito com ela, mas ela tem seu efeito nocivo, com o tempo acabamos perdendo nossa alma com ela.
Esse espelho negro, esse reflexo da nossa sociedade em uma visão futura distorcida exagerada mas ainda assim provável torna a série genial e terrível de nos vermos nesse mundo terrível que nós estamos construindo e caminhando em uma estrada cada vez mais desumanizada e cada vez mais artificial.
E isso Black Mirror faz de maneira genial, a série não só propõe o que pode ser o futuro mas sim mostra o presente. a maneira como sua vida inteira é divulgada em redes sociais, como o peso de ídolos artificias é grande, como o senso de justiça acaba sendo banal, como a noção de arte hoje pode ser doentia, e muitas outras questões, diversas tratadas em cada episódio.
Black Mirror é genial e DEVE ser vista pois é uma série que te faz questionar valores.


Cristo e a Dor como caminho para salvação

Aqui está seu salvador: indefeso, despido, pregado, agonizando.
Essa imagem, e sempre que eu me deparo com um crucifixo ou uma imagem de Cristo crucificado me leva a pensar no caráter simbólico que essas imagens possuem.


O cristianismo, mais especificamente a igreja católica, é uma religião do sofrimento, da elevação e adoração do sofrimento. Quanto mais você sofre no cristianismo, mais chances de salvação você tem. Indo na contra-mão de crenças pagãs como a dos deuses nórdicos, por exemplo, que valorizavam a força, glória e coragem.
Isso é possivelmente um reflexo do comportamento dos deuses de seu panteão. Os nórdicos possuíam deuses guerreiros, então valorizam qualidades de guerreiros, os cristãos por outro lado, possuem um deus que foi brutalmente morto, assim valorizam apenas esse aspecto de sua existência.
Sim, Cristo possuía outros aspetos importantes como caridade, altruísmo, amor, etc, porém como sua imagem mais lembrada e mais difundida em sua fé máxima é a do momento de sua morte, aparentemente os aspectos realmente importantes de sua persona são ofuscados pelo sofrimento divino do filho de deus. Afinal, se um deus sofreu de tal maneira brutal, por que eu, um reles mortal deveria viver sem sentir sequer uma fração de sua dor? Se eu realmente o amo, eu deveria provar a ele meu amor pela dor pois a dor é o símbolo da igreja, o símbolo da fé cristã.
Se as pessoas carregassem em seus pescoços uma imagem de Cristo Jesus lavando os pés de alguém, ou defendendo uma prostituta, se lembrariam de uma qualidade outra que não a dor, mas sim a caridade, generosidade, ou justiça. Porém, não é nem nunca será conveniente para a igreja uma fé caridosa e justa, mas sim uma fé sofrida onde seus discípulos sofram e vivam em eterna pobreza e agonia inquestionável.
Quanto mais eu buscar a crucificação, mais próximo estarei do arrebatamento.
Estou crucificado
Crucificado como meu salvador
Comportamento santo
Uma vida eu rezei ♪

Sobre dois rebeldes: Prometeu e Lúcifer

Falemos sobre dois rebeldes, primos distantes e suas histórias que direta ou indiretamente influenciaram um ao outro.
Vamos começar pelo mito do Titã Prometeu e de Pandora. Prometeu e Epimeteu eram dois titãs, irmãos, encarregados pelo Olimpo de criar a vida na Terra. Epimeteu criou os animais e lhe deu suas características específicas de cada espécie, mas quando chegou na hora do homem, o titã já havia esgotado suas alternativas e então recorreu ao irmão. Prometeu assim, decide por enganar o senhor do Olimpo, Zeus (Júpiter) e rouba o fogo dos deuses para dar à sua criação, o homem.
Zeus, furioso pune Prometeu, acorrentando-o à uma montanha onde um abutre o devoraria o fígado todas as manhãs eternamente, por Prometeu ser imortal, seu fígado se regeneraria diariamente para na manhã seguinte ser novamente devorado. Para Epimeteu, Zeus envia Pandora, a primeira mulher, onde todos os olimpianos participaram de sua criação lhe dando algum atributo especial.
Com Pandora, fora enviada uma caixa, nela contendo todos os males do mundo. Epimeteu a tomou por esposa, e então em um belo dia, Pandora, muito curiosa, acaba por abrir a caixa, libertando todos os males a recair sobre a humanidade. Ao fechar a caixa a tempo de restar apenas uma coisa dentro: a esperança.

Agora vamos ao nosso outro ilustre personagem: Lúcifer e o mito de Adão e Eva.
Consideremos aqui que tenha sido mesmo Lúcifer a serpente no Éden, e não algum outro demônio, e desconsideremos apenas por agora o mito de Lilith. O paralelo com Prometeu é muito claro. O homem, Adão (Epimeteu) é tentado pela mulher, Eva (Pandora) a provar do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (o fogo). Lúcifer (Prometeu), oferece a Eva uma saída da ignorância e a influência a comer do fruto proibido (a caixa).
Furioso pela desobediência, Deus YHWH (Zeus) pune a humanidade expulsando-os do Éden, para um mundo onde os males da caixa estão a solta. A serpente tentadora é condenada a se rastejar eternamente como punição, assim como foi a punição de Prometeu.

Tiremos então algumas conclusões dessas duas histórias em comum. Por quê as pessoas temem tanto Lúcifer, ao mesmo tempo que consideram Prometeu um amigo do homem? Satã, o opositor, o questionador, é aquele que nos indica o caminho para a árvore do conhecimento do bem e do mal, ele nos dá o fogo divino que nos permite realizar maravilhas, ao invés de permanecermos cegos servos de uma ordem sem sentido, no caso Deus.
Evolução vem através de rebeldia, quem obedece sem questionar não passa de um escravo. "Malditos são os adoradores de deuses, pois eles nunca serão nada além de ovelhas!" Lúcifer, assim como Prometeu apenas mostram o caminho, quem decide se vai continuar sendo ovelha ou vai se tornar lobo é você mesmo.
Entremos agora no aspecto mais polêmico de ambas as fábulas: a visão extremamente machista que as mitologias grega e judaico-cristã abordam a presença da mulher na gênese da humanidade. Em ambos os casos, a desgraça e a culpa de todos os problemas do mundo recai sobre os ombros de Pandora e Eva. Não é de se espantar que a sociedade contemporânea machista e patriarcal resolva culpabilizar as próprias mulheres caso elas sofram qualquer tipo de abuso. O berço da civilização, em seus mitos já demostra esse desprezo pela presença feminina a considerando inferior e uma espécie de bode expiatório para os pecados do homem.
Vamos relembrar Lilith agora, a primeira feminista, antes de Eva a primeira mulher, apagada da bíblia cristã por ser outra rebelde, assim como Lúcifer. Recusando-se a se submeter a Adão, foge do Éden e vai viver em meio a demônios uma vida de luxuria como bem entender. Eva, então é criada, inferior ao homem, diferente de Lilith, que fora criada em pé de igualdade com Adão.
A própria essência do Satanismo é de uma filosofia anarquista e humanista. Individualista, mas respeitosa na comunhão das leis de um grupo. Lilith, Lúcifer e Prometeu, três símbolos de rebeldia e questionamento da ordem vigente. Símbolos, arquétipos de nós mesmos representantes de nossa natureza mais humana. Não devem ser idolatrados como deuses, mas sim vistos como exemplos de como a anarquia, o ato de questionar, negar e contradizer foram e sempre serão o caminho para fogo divino, o fruto proibido.

terça-feira, 1 de março de 2016

Da futilidade de uma graduação em Artes

Hoje eu resolvi abordar um tema que está me incomodando há algum tempo já, a necessidade de um curso de graduação de artes existir. Eu cursei dois semestres de artes visuais antes de perceber que aquilo não era para mim e me decidir por outro curso. Eu nunca me identifiquei muito com aquilo que eles queriam me ensinar ali, pra mim aquilo não era arte, era outra coisa.
O problema maior de um curso de artes visuais é que lá você não aprende a fazer arte, você aprende a fazer um produto. Arte é sobre transmitir uma mensagem, sobre seu autor ou criador querer se comunicar com seu público através de sua criação, mesmo que sua mensagem seja simplesmente entretenimento. Em uma graduação de artes, não é ensinado o valor ético, o peso filosófico da arte e como transmitir uma critica, uma mensagem pessoal ou um valor, mas se baseia somente em como vender essa "arte" e lucrar o máximo possível com esse produto.
Não posso negar que as técnicas de criação em desenho, fotografia, cinema, softwares, etc são ensinados bem, porém são ensinados com um propósito errado. O artista é em primeiro lugar um comunicador, em ultimo lugar ele deve buscar o lucro com sua obra. A forma como é ensinado as técnicas de criação de uma obra é feita de maneira artificial, sem alma, onde a obra é um produto comercial e não um produto artístico. Em uma faculdade de artes você é moldado para o mercado e não para se tornar um artista.
Mas então quer dizer que o aprendizado da técnica artística deve ser deixado de lado e a pessoa deveria apelar para um aprendizado autodidata? Em hipótese alguma. Mesmo os grandes artistas em algum momento tiveram que aprender suas habilidades com a ajuda de outrem. Um curso somente daquilo que se quer aprender é um dos caminhos, por exemplo, caso seu foco artístico seja fotografia, buscar um curso de apenas fotografia, sem as distrações de outras formas de arte, pode ser muito mais proveitoso do que uma faculdade inteira dedicada a artes.
Talvez o problema seja a nomenclatura do curso também. Se de "Artes Visuais" fosse alterado para "Técnicas Artísticas" talvez não causasse a confusão usual. Eu entro em uma faculdade de Artes, esperando aprender a fazer arte e todo o seu valor filosófico e ético e etc, mas acabo por apenas aprender a produzir um produto artístico com valor comercial através das técnicas ensinadas. A extinção do nome "Arte" antes do nome do curso pode fazer com que novos estudantes, aspirantes a artistas não se frustrem com o curso assim como eu.
Essa questão de o que é e o que não é arte é algo complexo de se tratar, a problemática de um docente que só tem conhecimento ou experiência num campo comercial com arte agrava a questão da arte como produto e não como meio de comunicação. Além da óbvia prepotência desse tal docente de querer ditar o que é e o que não é arte tendo uma visão limitada sob a lente do mercado.
No final das contas o que vale realmente é a noção pessoal de arte de cada um e o que ela significa para si. Nenhum professor de faculdade, por mais qualificado que possa ser jamais poderá fazer com que você desgoste deste ou daquele quadro, livro, filme, ou imagem apenas por sua visão pessoal ser diferente da sua própria. Se tal obra transmite uma mensagem para você, e talvez não se comunica com outra pessoa, quem sabe você compreendeu de certa maneira a visão do artista e o outro não.