domingo, 20 de março de 2016

Solidão, depressão e suicídio

Eu quero falar de um assunto muito pessoal para mim. Algo que eu sei que muita gente não dá a mínima, muita gente tira sarro desse assunto, mas tem muita gente que sofre disso, que passa ou já passou por isso e sabe que isso não é "frescura" como muita gente fala por ai. Eu quero falar sobre depressão. Uma doença que hoje já é considerada o mal do século.

Eu primeiro vou contar sobre a minha experiência pessoal com a depressão. Não é uma história bonita, não é algo que eu gosto de me lembrar nem que eu goste de falar sobre, mas é algo que precisa ser discutido. Há alguns anos, uns quatro anos, mais ou menos, não tenho certeza, eu estava morando em São Paulo, tinha recentemente me mudado de Macaé onde possuía vários amigos, porém a mudança de cidade me afetou drasticamente. Fiquei morando lá com meus pais, minha irmã recém nascida e nenhum amigo. Eu me sentia sozinho, vazio. Uma casca sem  preenchimento. Não só isso as constantes brigas com meu pai só pioravam as coisas. Enfim, eu passei cerca de dois anos em São Paulo, aquela cidade com um ar opressor e deprimente. Matava aulas sempre que podia, não tinha coragem para ir no colégio, só queria ficar em casa.

Um dia, eu não aguentei mais a pressão e acabei por dar um xeque mate em mim mesmo. Eu tenho síndrome de tourett, que pra quem não sabe são diversos tiques motores involuntários que a pessoa acaba realizando, e por causa disso eu tomava, e ainda tomo remédios controlados. Nesse dia, eu sai de casa fingindo que ia pra escola, esperei meus pais irem para o trabalho, e voltei para casa. Em casa, eu acabei tomando todos os meus remédios de uma vez só, não só os que eu já estava tomando como também as caixas reservas para durarem semanas. A quantia exata de comprimidos eu não sei dizer mas foram muitos. Depois que eu  fiz esse ato de estupidez infinita, eu me dei conta do que eu havia feito. Fiquei desesperado. A primeira coisa que eu pensei foi na minha família, na minha irmã. Se eu morresse ali agora, como eu veria minha irmã crescer? O que seria da minha família? Dos meus pais, meus avós? Então eu peguei o celular e liguei para minha mãe que estava no trabalho e falei o que eu havia feito. Um adendo, era dia 1 de abril, então já sabe né, imagina se ela acha que é mentira. Felizmente ela acreditou, ficou desesperada, falou pra eu tentar vomitar os comprimidos fora e ligou para o porteiro do prédio me levar para o hospital correndo.

No caminho, enquanto o porteiro me levava para o hospital, que se não fosse por ele, hoje eu estaria morto, eu não estava com medo de morrer por causa dos remédio, mas sim de como o homem dirigia como um louco pra chegar logo no hospital. O negocio foi que eu passei uma semana na UTI, tomando um negócio de carvão lá pra filtrar meu organismo com a merda de um tubo entrando pelo meu nariz, passando pela minha garganta e chegando no meu estomago. Mas isso era o de menos, a vergonha de não conseguir ir no banheiro e acabar me cagando todo na cama pra depois as enfermeiras me darem banho na própria cama era maior. Pra urinar, sonda enfiada você sabe onde.

O que eu aprendi com isso tudo. Eu aprendi a valorizar a minha própria vida. Depois de passar por uma experiência muito pior do que a morte, eu vi que o suicídio não vale a pena. Não só isso. Meus avós que moravam aqui em Londrina, ao saberem do que aconteceu, foram correndo me ver no hospital. Meus pais ficaram ao meu lado o tempo todo. Eu percebi que eu tinha pessoas que se importavam comigo e me amavam, por mais fodida que estava minha vida.

Mas o que eu quero dizer é: tem muita gente que julga os outros sem saber pelo que essas pessoas passam. O sofrimento não existe só na forma física ou econômica, o sofrimento emocional é o mais presente de todos. Antes de você julgar alguém dizendo que o que ela diz estar passando é frescura, se coloque no lugar dela.

Eu conheço pessoas que consideram a depressão delas como falta de deus no coração e falta de rezar. Sério, isso me emputece muito. A pessoa não precisa de um padre ou um pastor, ela precisa de um psicólogo, um psiquiatra. Eu já cansei de ver em páginas de facebook moleques idiotas dizendo que pessoas com depressão que se cortam como uma forma de extravasar o sofrimento é falta de dar, é menina mal comida. Além de falta de compreensão, ignorância, também é machismo do pior tipo.

Tem muita gente que considera pessoas que tentaram suicídio como covardes por quererem fugir da vida. Amigo, desculpa mas não é nenhum tipo de covardia querer acabar com um sofrimento insuportável, por mais que hoje, depois da minha experiência eu seja totalmente contra o suicídio e acredite que com ajuda profissional e antidepressivos a pessoa pode ter uma vida feliz e saudável de novo.

Eu não consigo eleger um melhor dia da minha vida, mas o pior dia eu vejo ele de longe como esse em que eu tentei suicídio. Até hoje é difícil lembrar disso, escrever esse texto por exemplo está sendo extremamente desagradável. Porém hoje eu sou uma nova pessoa. Me afastei daquela cidade opressora que por mim nunca mais volto a morar. Moro com meus avós em uma casa com um clima muito mais agradável. Tenho diversos amigos aqui que eu amo muito. E sim, eu tomo antidepressivos, se eu ficar sem eles já bate aquela bad.

Se você tem depressão ou conhece alguém que tenha, procure ajuda, não precisa passar por isso sozinho. E se você julga alguém sem saber pelo que ela passa, não seja um babaca e procura conhecer melhor o problema dessa pessoa antes de falar merda.


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