domingo, 6 de março de 2016

Sobre dois rebeldes: Prometeu e Lúcifer

Falemos sobre dois rebeldes, primos distantes e suas histórias que direta ou indiretamente influenciaram um ao outro.
Vamos começar pelo mito do Titã Prometeu e de Pandora. Prometeu e Epimeteu eram dois titãs, irmãos, encarregados pelo Olimpo de criar a vida na Terra. Epimeteu criou os animais e lhe deu suas características específicas de cada espécie, mas quando chegou na hora do homem, o titã já havia esgotado suas alternativas e então recorreu ao irmão. Prometeu assim, decide por enganar o senhor do Olimpo, Zeus (Júpiter) e rouba o fogo dos deuses para dar à sua criação, o homem.
Zeus, furioso pune Prometeu, acorrentando-o à uma montanha onde um abutre o devoraria o fígado todas as manhãs eternamente, por Prometeu ser imortal, seu fígado se regeneraria diariamente para na manhã seguinte ser novamente devorado. Para Epimeteu, Zeus envia Pandora, a primeira mulher, onde todos os olimpianos participaram de sua criação lhe dando algum atributo especial.
Com Pandora, fora enviada uma caixa, nela contendo todos os males do mundo. Epimeteu a tomou por esposa, e então em um belo dia, Pandora, muito curiosa, acaba por abrir a caixa, libertando todos os males a recair sobre a humanidade. Ao fechar a caixa a tempo de restar apenas uma coisa dentro: a esperança.

Agora vamos ao nosso outro ilustre personagem: Lúcifer e o mito de Adão e Eva.
Consideremos aqui que tenha sido mesmo Lúcifer a serpente no Éden, e não algum outro demônio, e desconsideremos apenas por agora o mito de Lilith. O paralelo com Prometeu é muito claro. O homem, Adão (Epimeteu) é tentado pela mulher, Eva (Pandora) a provar do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal (o fogo). Lúcifer (Prometeu), oferece a Eva uma saída da ignorância e a influência a comer do fruto proibido (a caixa).
Furioso pela desobediência, Deus YHWH (Zeus) pune a humanidade expulsando-os do Éden, para um mundo onde os males da caixa estão a solta. A serpente tentadora é condenada a se rastejar eternamente como punição, assim como foi a punição de Prometeu.

Tiremos então algumas conclusões dessas duas histórias em comum. Por quê as pessoas temem tanto Lúcifer, ao mesmo tempo que consideram Prometeu um amigo do homem? Satã, o opositor, o questionador, é aquele que nos indica o caminho para a árvore do conhecimento do bem e do mal, ele nos dá o fogo divino que nos permite realizar maravilhas, ao invés de permanecermos cegos servos de uma ordem sem sentido, no caso Deus.
Evolução vem através de rebeldia, quem obedece sem questionar não passa de um escravo. "Malditos são os adoradores de deuses, pois eles nunca serão nada além de ovelhas!" Lúcifer, assim como Prometeu apenas mostram o caminho, quem decide se vai continuar sendo ovelha ou vai se tornar lobo é você mesmo.
Entremos agora no aspecto mais polêmico de ambas as fábulas: a visão extremamente machista que as mitologias grega e judaico-cristã abordam a presença da mulher na gênese da humanidade. Em ambos os casos, a desgraça e a culpa de todos os problemas do mundo recai sobre os ombros de Pandora e Eva. Não é de se espantar que a sociedade contemporânea machista e patriarcal resolva culpabilizar as próprias mulheres caso elas sofram qualquer tipo de abuso. O berço da civilização, em seus mitos já demostra esse desprezo pela presença feminina a considerando inferior e uma espécie de bode expiatório para os pecados do homem.
Vamos relembrar Lilith agora, a primeira feminista, antes de Eva a primeira mulher, apagada da bíblia cristã por ser outra rebelde, assim como Lúcifer. Recusando-se a se submeter a Adão, foge do Éden e vai viver em meio a demônios uma vida de luxuria como bem entender. Eva, então é criada, inferior ao homem, diferente de Lilith, que fora criada em pé de igualdade com Adão.
A própria essência do Satanismo é de uma filosofia anarquista e humanista. Individualista, mas respeitosa na comunhão das leis de um grupo. Lilith, Lúcifer e Prometeu, três símbolos de rebeldia e questionamento da ordem vigente. Símbolos, arquétipos de nós mesmos representantes de nossa natureza mais humana. Não devem ser idolatrados como deuses, mas sim vistos como exemplos de como a anarquia, o ato de questionar, negar e contradizer foram e sempre serão o caminho para fogo divino, o fruto proibido.

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